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ARTIGOS Quarta-feira, 18 de Setembro de 2024, 15:16 - A | A

Quarta-feira, 18 de Setembro de 2024, 15h:16 - A | A

Vivaldo Lopes

Fogo, clima e preços

Vivaldo Lopes
Tv Única

Certamente o tema das alterações climáticas estará no centro das discussões das eleições de 2026. E a relevante questão estará no centro dos debates por exigência da sociedade e não por iniciativa dos nossos líderes políticos que não estão sabendo lidar com a gravidade do problema. Em 2024 o Brasil enfrenta a maior seca dos últimos setenta anos.

Creio que em Mato Grosso a crise do clima terá ainda mais importância nas próximas eleições visto que a agropecuária é o principal motor da economia estadual. O estado tem sua matriz econômica altamente dependente da exportação de mercadorias agrícolas, carnes e madeiras. Área mais sensível aos fatores climáticos, agricultura e pecuária já registram grandes prejuízos com os trágicos incêndios, secas prolongadas e as enchentes diluvianas. No curto prazo, agricultores e pecuaristas precisarão gastar mais para recomposição de áreas, recompor solos e reconstruir ativos da infraestrutura das fazendas.

A longo prazo, as mudanças climáticas podem colocar dúvidas sobre a rentabilidade, sustentabilidade ambiental e econômica do negócio agropecuário no estado. Produzimos em biomas muito sensíveis a variações do clima, cerrado, pantanal e floresta tropical, a porção amazônica.

No cotidiano das famílias os efeitos dos estragos causados aparecem no aumento dos preços de produtos da alimentação. Milhares de municípios produtores de frutas, café, feijão, cana-de-açucar, hortaliças, carnes, ovos, leite tiveram suas áreas produtivas destruídas pelo fogo. A consequência, será a pressão sobre os preços e o consumidor pagará pelo desequilíbrio entre oferta e demanda dos alimentos. A agricultura brasileira depende da regularidade do clima. A maior frequência de fenômenos de secas prolongadas e chuvas intensas aumenta o desafio de produzir regularmente a preços competitivos.

A elevação dos preços por razões climáticas, algo incontrolável pelo produtor, pressiona a inflação. E essa inflação causada por variações climáticas bruscas é muito difícil de ser controlada pelo principal instrumento de política monetária que é aumentar a taxa básica de juros.

Responsável por 65% do açúcar produzido no país, o Sudeste teve grande parte dos seus canaviais devorados pelos incêndios. Alguns por pura irresponsabilidade e outros de forma criminosa. A consequência foi o aumento dos preços do açúcar cristal nas gôndolas dos supermercados e do etanol nas bombas de combustível.

A queda de safra de soja e milho, além de impulsionar os preços dos próprios produtos, afeta também os preços de carnes, ovos, leite e derivados que utilizam soja e milho como ração para complementar a alimentação dos animais.

O paradoxo do aumento dos preços dos alimentos é que nos últimos meses, um dos fatores que puxaram a inflação para baixo foi justamente a queda de preços de itens da alimentação, dando certo alívio aos bolsos dos consumidores, especialmente os de rendas menores.

A seca intensa também aumenta as contas de energia elétrica. Como os reservatórios das usinas hidrelétricas estão em níveis muito baixos, o órgão regulador precisou acionar as usinas termelétricas. Estas produzem energia mais cara e as concessionárias repassam o aumento do preço da energia comprada para os consumidores industriais, comerciais e residenciais.

A mudança climática é um problema global e não pode mais ser desprezado pelas forças civis, sociais, empresariais e políticas. Nenhum cientista ou instituição especializados no assunto conseguem afirmar que nos próximos anos o Brasil não conviverá novamente com as mesmas tragédias climáticas de 2024. Ao contrário, afirmam que podem se repetir com mais intensidade. E as lideranças não podem dizer que foram surpreendidos. Os alertas são emitidos há décadas pelas mais diversas universidades e centros de conhecimento que estudam e pesquisam o assunto.

Ignorar a gravidade do fenômeno das mudanças climáticas seus impactos sobre a economia e trágicas consequências sobre a vida no planeta é como começar a escrever a crônica de uma tragédia anunciada.

 

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