Mato Grosso só conseguirá avançar para um novo patamar de desenvolvimento econômico se investir de forma estruturante em ferrovias. A avaliação é do ex-ministro da Agricultura e ex-deputado federal, Neri Geller, que voltou a defender a ampliação da malha ferroviária como condição essencial para destravar o chamado terceiro ciclo industrial do estado.
Em entrevista recente, Geller afirmou que a infraestrutura logística deixou de ser apenas um diferencial competitivo e passou a ser um requisito básico para a atração de indústrias de médio e grande porte. Segundo ele, a dependência excessiva do transporte rodoviário eleva custos, reduz margens e limita a capacidade de Mato Grosso competir no mercado global.
“Sem trilhos, o estado fica restrito à produção primária. Com ferrovias, abre-se espaço para agroindústrias mais complexas, geração de empregos qualificados e desenvolvimento regional”, afirmou.
Transição econômica
O ex-ministro avalia que Mato Grosso já atravessou dois ciclos econômicos importantes: o primeiro baseado na expansão da produção de commodities agrícolas e o segundo marcado pela industrialização primária, com frigoríficos, usinas de biodiesel e processamento inicial de grãos. Agora, segundo ele, o desafio é avançar para um terceiro ciclo, focado na agregação de valor, inovação e diversificação industrial.
Nesse contexto, regiões como a Baixada Cuiabana são vistas como estratégicas para a instalação de novos empreendimentos industriais, desde que haja logística eficiente para escoamento da produção e acesso a mercados consumidores.
Redução do Custo Brasil
Entre os principais argumentos em defesa das ferrovias está a redução do chamado Custo Brasil. Estudos do setor indicam que o transporte ferroviário pode diminuir significativamente os gastos com frete em comparação ao modal rodoviário, tornando viáveis investimentos industriais que exigem escala, previsibilidade e competitividade internacional.
Projetos como a Ferrogrão e a Ferrovia de Integração Centro-Oeste (FICO) são citados como fundamentais para integrar Mato Grosso aos portos do Norte e do Sudeste, reduzindo distâncias logísticas e ampliando a competitividade do agronegócio e da indústria.
Emprego e sustentabilidade
Além do impacto econômico, Geller destaca que a expansão ferroviária tem forte efeito social. A construção e operação das ferrovias geram milhares de empregos diretos e indiretos, muitos deles de natureza técnica, com melhores salários e maior qualificação profissional.Outro ponto ressaltado é o aspecto ambiental. O transporte ferroviário emite menos gases de efeito estufa por tonelada transportada do que o rodoviário, contribuindo para a redução das emissões e alinhando desenvolvimento econômico à agenda de sustentabilidade.
Articulação política
Com passagem pelo Executivo e pelo Legislativo, Geller afirma que segue atuando na articulação política para viabilizar projetos estruturantes em nível federal. Para ele, iniciativas como Ferrogrão, FICO e a Ferrovia Estadual não competem entre si, mas formam um sistema integrado capaz de transformar a logística de Mato Grosso.
“O debate sobre ferrovias não é ideológico. É técnico, econômico e estratégico. Trata-se de preparar o estado para os próximos 20 ou 30 anos”, concluiu.






