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ARTIGOS Quarta-feira, 20 de Agosto de 2025, 09:56 - A | A

Quarta-feira, 20 de Agosto de 2025, 09h:56 - A | A

Thiago Itacaramby

Revogação que atrasa a sustentabilidade

Thiago Itacaramby
Tv Única

A recente revogação da tarifa de lixo em Cuiabá, a partir de agosto, pode até soar como uma vitória popular à primeira vista, mas representa um enorme retrocesso na construção de políticas públicas sustentáveis. Ao abrir mão de um instrumento que poderia ser essencial para fomentar a coleta seletiva, a educação ambiental e o investimento em infraestrutura de gestão de resíduos sólidos, a atual gestão municipal mostra, mais uma vez, que sustentabilidade não é prioridade.

A cobrança da taxa, agora oficialmente revogada para pequenos geradores residenciais, estava longe de representar uma política eficiente. É inegável que a população não pode arcar com mais um peso em tempos difíceis. No entanto, a discussão não deveria se limitar a ser contra ou a favor de mais uma cobrança. O ponto central é: por que não transformar essa tarifa em um incentivo? Um instrumento que estimule a separação correta dos resíduos, recompense boas práticas e fortaleça a economia circular.

Atualmente, Cuiabá recicla apenas 5% de tudo o que coleta — um número vergonhoso que espelha a média nacional, segundo dados da Associação Brasileira de Resíduos e Meio Ambiente (Abrema). Sem recursos financeiros e sem uma política sólida de gestão de resíduos, como se espera que a cidade avance? A tarifa poderia ser revertida em campanhas de conscientização, centros de triagem, ampliação da coleta seletiva nos bairros e apoio às cooperativas de catadores. Mas, infelizmente, preferiu-se o caminho mais raso: eliminar o problema fingindo que ele não existe.

Vale lembrar que grandes geradores de lixo ainda pagarão a tarifa — aqueles que produzem entre 200 e 5 mil litros de resíduos por dia. Isso é justo. Mas também é insuficiente. A mudança mais efetiva viria de um pacto coletivo, onde todos participam de maneira proporcional e transparente, e veem retorno nos serviços prestados.

A decisão do prefeito de atender a uma promessa de campanha sem apresentar uma política alternativa consistente é preocupante. O fim do decreto de calamidade financeira poderia ser justamente o marco de uma nova fase: mais sustentável, com investimento em políticas públicas e infraestrutura. Mas, ao contrário, opta-se por populismo ambiental, onde o discurso soa bem, mas os impactos serão duradouros.

Exemplos nacionais e internacionais mostram o caminho que deveríamos seguir. Curitiba - a cidade mais sustentável do país - cobra, educa e investe bem os recursos em infraestrutura. Nova Iorque, com sua política de gestão de resíduos robusta, inclui taxas e incentivos para tornar o sistema funcional e justo. Não é sobre pagar mais impostos, é sobre entender que lixo tem custo — ambiental, social e econômico. Fingir que não tem é negar o problema.

Por fim, fica o alerta: revogar a tarifa sem apresentar soluções é irresponsável. Precisamos de políticas públicas que ajudem a construir uma cidade limpa, eficiente e preparada para os desafios ambientais do presente e do futuro. Cuiabá merece mais do que discursos fáceis. Precisa de gestão ambiental séria e comprometida.

 

Thiago Itacaramby é consultor Lixo Zero, gestor ambiental, empreendedor e comunicador social. E-mail titacaramby@gmail.com   

 

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