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ARTIGOS Quarta-feira, 18 de Junho de 2025, 09:31 - A | A

Quarta-feira, 18 de Junho de 2025, 09h:31 - A | A

Adriele Rodrigues

O que o Funk do Patinho nos ensina sobre marketing

Adriele Rodrigues
Tv Única

Quem tem filho pequeno conhece essa música, com certeza. O Funk do Patinho é uma mistura de remelexo com uma melodia que gruda que nem chiclete na cabeça das crianças (e dos pais). Quem não se pega cantando “mexe, mexe sem parar, dança, dança até cansar, roda, roda igual pião, pula, pula, sai do chão, congela!” Sei que muitos papais leram cantando!

Mas este artigo não é para falar da música em si, mas da estratégia utilizada. Dando uma vasculhada, entre os tantos vídeos infantis que existem no Youtube, eu estava observando o Funk do Patinho, que não por acaso possui mais de 1,5 bilhão de acessos em três anos de publicação. Isso mesmo, vocês têm noção do quanto isso representa: 1.500.000.000. É muito zero, minha gente!

E para quem ainda não viu, basta procurar Bento e Totó, Funk do Patinho, para perceber que estou falando de um vídeo não tão maravilhosamente produzido assim. Na verdade, de certo modo, ele fica bem abaixo de outros vídeos no quesito design. É um 3D bem mais ou menos, com um patinho que muda de cor quase a música toda.

Dito isso eu me perguntei: como que o Funk do Patinho alcançou um número tão expressivo sendo que, esteticamente, deixa um pouco a desejar? Nesse momento eu entendi a relação com o que tanto defendo: o visual é importante, sim, mas uma boa história, uma música que cola, contam muito mais que superproduções.

O Funk do Patinho reforça o que tenho dito há tempos, as pessoas buscam hoje histórias boas, bons enredos, e no caso da música, um som quase hipnotizante com cores pensadas para atrair o público-alvo, sim, as crianças e os papais. E dá certo! Para quê gastar tanto tempo produzindo um desenho esteticamente perfeito se a música não é atraente?

E o mesmo é o que ocorre com as redes sociais. Muitos gastam horas produzindo vídeos, artes e tudo mais com muita mão de obra, filtros e técnicas, mas esquecem do que move as pessoas hoje em dia: histórias. “Produzi um vídeo que levou três dias para ficar pronto, enquanto um stories do meu cliente na rua alcançou o dobro de alcance”. A explicação é essa, tem história, tem um enredo legal, é real, fica na cabeça!

O poder que a palavra história ganhou atualmente é tanto que os profissionais da área vivem oferecendo cursos de storytelling, que é o termo do momento para falar do ato de contar histórias de forma estruturada e envolvente para comunicar uma mensagem, despertar emoções e gerar conexão com o público. É o usar um enredo como estratégia de comunicação para “fisgar” (um público que “rola” infinitamente a tela do celular) seja para vender, educar ou engajar.

O Funk do Patinho entendeu que seu público não quer um desenho perfeito, seu público quer uma música dançante com cores atrativas, e nas redes sociais se observa que o público, pelo menos a maioria, não quer mensagens perfeitas, mas sim histórias reais, que fogem da Inteligência Artificial e que mostrem o que se tornou raro hoje em dia: o dia a dia, o real, o imperfeito!

O sucesso do marketing hoje, e aqui expando para o marketing de modo geral, está no poder de contar uma boa história, porque imagens, vídeos e textos perfeitos podem ser gerados em segundos por qualquer IA, mas boas histórias, essas sim dependem de pessoas para serem reais e de bons profissionais para serem contadas com emoção.

Tenho dito isso e continuo ressaltando, o perfeito hoje em dia é muito mais fácil de ser produzido, mas ter tempo para captar as emoções e as descrever, isso sim leva tempo. Então, quando for pensar em marketing, pense também no Funk do Patinho. Não quero dizer que as grandes produções deixaram de fazer sentido, definitivamente não. Só quero dizer que, provavelmente, o maior sucesso da sua rede social é um post do acaso.

A nossa função, enquanto especialistas em comunicação, é transformar o corriqueiro em história. O café que a Dona Maria faz, a música que o Gabriel escuta no celular e que lembra da sua terra natal, enfim, nosso propósito hoje é mais emoção do que perfeição. E que bom que o Funk do Patinho veio reforçar, com seus bilhões de acesso, o que tenho percebido diariamente.

Porque no fim das contas, a melhor estratégia ainda é aquela que toca e ninguém se emociona com perfeição, mas sim com o que é de verdade. E aí, tem contado boas histórias?

Adriele Rodrigues – Doutora pela UFMT e Assessora de Comunicação

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